20 Finger Tips - Two Minds in One Soul
terça-feira, 25 de outubro de 2011
terça-feira, 1 de setembro de 2009
A Casca - Capítulo V: Imenso e Profundo
quinta-feira, 30 de julho de 2009
A Casca - Capítulo IV: Monalisa
terça-feira, 21 de julho de 2009
A Casca - Capítulo III: A Teoria do Contrário
Lúcia abriu seus grandes olhos azuis. Um pouco tonta e desnorteada. Tentava refazer mentalmente a conta de quanta cocaína havia ingerido acompanhada de tequila. Havia também bebido bourbon. Teria sido antes ou depois do ecstasy? Provavelmente depois. Depois de sair do clube. Depois de despir seu alter-ego Ray. Sua cama deveria estar coberta de garrafas, comida velha, papelotes. Livros. Cientologia, teoria da conspiração, culinária e é claro, medicina.
Bip... Bip... Bip... Familiar demais.
Abrindo mais ainda os olhos, que a essa altura ocupavam metade de seu rosto, Lúcia conseguiu distinguir na penumbra as cortinas verdes em volta da sua cama. O reconhecimento do ambiente não foi se infiltrando em sua mente devagar, caiu como um peso de chumbo no seu estômago. O bip, as cortinas, estar deitada rigidamente de costas, o frio limpo do ambiente. Ela estava no hospital. Quase certamente no mesmo hospital em que trabalhava.
Seus olhos, normalmente límpidos, estavam injetados de fúria muda. Movendo a cabeça ela conseguiu divisar os monitores de atividade cardíaca e pressão arterial. Um acesso estava espetado em seu braço, enquanto gotas gordas e cintilantes de soro caiam ritmicamente. Não estava conseguindo se mover pois estava amarrada à cama. Um imenso vazio na barriga. A compreensão de que todos que conhecia no hospital haviam rompido a muralha que separava sua vida pessoal. E provavelmente, quem havia aberto a primeira fissura havia sido ela mesma.
***
Os paramédicos haviam sido enviados a um elegante prédio numa das regiões mais ricas da cidade. O edifício tinha portas com puxadores de latão, eternamente polidos. Um elegante concierge atendeu ao grupo de dois homens e uma mulher, equipados com desfibriladores, maletas de medicamentos e talas, prontos para todo tipo de emergência.
_ Precisamos ter acesso ao apartamento da doutora Lúcia Morgan. _ disse o homem mais alto, dirigindo-se ao concierge.
_ Algum problema? _ este perguntou com a indiferença que lhe qualificava para esta profissão.
_ Esperamos que não. _ respondeu-lhe o segundo paramédico.
O esguio concierge, por trás de sua mesa, acionou o interfone e permaneceu praticamente parado por uns cinco minutos enquanto o aparelho tocava na cobertura sem ser respondido.
_ Parece que a senhorita Morgan não está em casa. _ falou, por fim.
_ Então precisamos que o senhor abra o apartamento para que nós possamos olhar. _ o primeiro paramédico retrucou.
Olhando para o grupo por uma última vez, o concierge chamou dois seguranças pelo rádio para completar a comitiva de seis pessoas que subiriam ao apartamento de cobertura. Por trás de sua fisionomia inalterada, estava muito irritado, pois jamais tivera de invadir assim a privacidade de um morador. Porém eram paramédicos que estavam em sua frente e havia uma enorme e vermelha ambulância com suas luzes piscantes, vermelhas e azuis, contudo a desagradável sirene estava desligada. Por experiência, pois já tivera a oportunidade duvidável de trabalhar em condomínios de novos-ricos, era melhor resolver assuntos ligados à ambulâncias, bombeiros e polícia o mais rápido possível.
Ao chegar à porta da cobertura, com a chave mestra abriu o apartamento, deixando os três paramédicos entrarem, seguidos dos dois seguranças, entrando também por fim. Aquele era o maior apartamento do edifício, possuindo um hall de entrada independente e chave de acesso para o elevador, o que queria dizer que nenhum outro morador do prédio poderia subir sem a presença do próprio dono da cobertura.
No instante que entraram todos se sentiram um pouco confusos. A decoração com lounge, duas salas divididas por um desnível, cortinas e venesianas nas janelas, até mesmo um piano de cauda, que era esperada em um apartamento tão grande não existia ali. A sala era um enorme espaço escuro, com chão de concreto vitrificado, janelas fechadas por persianas de ferro, luminárias fluorescentes em toda a área do teto e várias prateleiras de ferro nas paredes. Existia uma mesa de madeira escura no centro e era só. Milhares de livros, revistas e encadernações atulhavam as prateleiras de alto a baixo. Mas o mais perturbador era a quantidade de caixas de arquivo papelão, parecendo extremamente cheias, que se derramavam de algumas prateleiras, espalhando-se profusamente pelo chão e umas sobre as outras. Era inegável a sensação de se estar entrando em uma biblioteca esquecida, ou o depósito de documentos de uma velha fábrica, ou mesmo um repartição perdida no tempo, antes dos arquivos digitais.
A cozinha também era perturbadora. Desprovida de qualquer elemento que a tornasse mais humanizada, como flores ou quadros. Os armários, em todas as paredes e o balcão eram de aço inoxidável escovado. Um dos paramédicos, o mais baixo, abriu a geladeira, onde não havia nada. Nem mesmo garrafas de água.
O primeiro quarto onde entraram parecia normal até ter suas luzes acesas. Era muito frio. O motivo era o funcionamento de uma central de computadores. Existiam cinco máquinas ligadas, cada um com seu monitor LCD. Além de mais quatro monitores com imagens do resto da casa, ou seja, a casa era coberta por um sistema de câmeras. Enquanto a paramédica se impressionava com mais prateleiras, desta vez cobertas de cd's, uns dez mil títulos, como ela mentalmente calculava, o paramédico mais alto localizava no monitor das câmeras a imagem que os trouxera ali. Olhando no mapa lateral, que representava a planta da casa enorme, se dirigiram rapidamente ao cômodo de cima.
Lúcia estava deitada de bruços. A cabeça e o braço esquerdo pendurados para fora da cama king size. Garrafas derramadas no lençol branco. Embalagens de comida chinesa já vencida, papéis de chocolates, latas de cerveja.
_ Doutora Lúcia Morgan? _ a paramédica tentou, sua voz era pouco firme _ Senhora...?
Os seguranças olhavam um tanto assustados da porta do quarto. O concierge estava dentro do quarto junto com os paramédicos, porém não fez nenhum movimento para ajudá-los a mover Lúcia, somente abriu a boca de espanto ao notar a pele tatuada das costas e dos braços.
Mesmo os paramédicos estavam duvidosos que fosse realmente a doutora Lúcia Morgan, neurocirurgiã, competente, educada, alegre e polida, que recebia os casos de graves fraturas cranianas provenientes de colisões no trânsito, quando estava de plantão no hospital. Tinha sido o chefe da cirurgia que havia pedido a visita à casa da doutora quando esta perdera o plantão. Ele ficara muito preocupado, pois em cinco anos isto jamais ocorrera. A verdade é que tudo, desde suas roupas, seus modos, seus gestos, a maneira de falar o modo como executava suas operações, como jamais parecia esgotada, era tudo tão milimetricamente correto, que o chefe de cirurgia sempre desconfiara que havia algo errado com sua colega. Lucia jamais havia perdido um minuto sequer, nunca se atrasava. Não dava desculpas, não comentava da vida, marido ou filhos, não demonstrava gosto particular para música ou linha ideológica, ou política. Ela sempre tinha um sorriso na face que destoava dos olhos. O foco destes estava sempre muito além de qualquer lugar.
Lúcia foi virada de costas. Estava cianótica. Unhas e lábios azuis. Seus olhos estava abertos e vidrados e imediatamente os paramédicos iniciaram o processo de reanimação.
***
Ela já estivera ali antes. A muito, muito tempo atrás. Ou seria ainda a pouco? O familiar cheiro de resina de pinho. O barulho das folhas secas estalando sob seus passos. Essa luz suave, esverdeada, filtrada pela folhagem, que chegava lentamente ao seu rosto.
A copa das árvores era tão fechada que não se conseguia distinguir o disco solar. Não era possível se determinar a hora do dia, se era à tarde ou pela manhã.
Um sentimento de plenitude, de felicidade absoluta transbordava de seu peito àquela hora. Era maravilhoso olhar para a floresta silenciosa e perceber que era somente sua. Ninguém mais poderia devassar aquele lugar sagrado.
Porém, subitamente, o arrepio gelado na nuca denunciava que existia alguém estranho profanando seu templo. Lúcia corria os olhos pela clareira até enxergar dentre as árvores o homem dos olhos velhos.
Mas o homem não era um proscrito, profanador amaldiçoado, não. Ele era a encarnação da felicidade da floresta. Era o deus que concedia a graça de ser visto somente uma vez por quem tivesse a audácia de entrar nos seus domínios. Dele e não de Lúcia era a floresta.
Um imenso medo de ter cometido um erro atravessava Lúcia como um punhal. Ela precisava explicar-lhe tudo. Como ela também era uma deusa. Como ela também era dona da floresta. Como os dois precisavam estar juntos para preservar a unicidade daquele solo sagrado.
Antes que Lúcia abrisse a boca, o homem dos olhos velhos, gêmeos dos seus próprios olhos, sorria de lado, desdenhando do seu desespero e se voltava para desaparecer. Lúcia corria para ele. Era preciso alcançá-lo. Era preciso que ele entendesse que os dois eram metades de um todo. Ele não poderia partir!
Passando célere entre as árvores, gingando à direita e à esquerda, deviando de tocos e troncos como uma onça faria, Lúcia chegou a outra clareira, mas lá já não havia sinal do homem. Mais um vez ele se fora. A consciência de que isso já havia acontecido muitas e muitas vezes antes a assolou. Parecia estar se repetindo por milênios, desde a fundição da Terra, desde a explosão do universo. E seria repetido ainda infinitas vezes mais.
Ajoelhando-se no chão, Lúcia chorou. O choro sincero e sentido da derrota. Nenhuma perpectiva de futuro. A certeza de que continuaria procurando em vão pelo resto do Tempo pelo seu deus-par. O choro não secava e quanto mais era chorado, mais sentido e profundo se tornava. Lúcia sentiu que era a mãe de todos os rios do mundo. Mãe do oceano salgado de suas lágrimas.
Levantou seu rosto. Este estava molhado. Não só o rosto, mas todo o seu corpo e cabelo, como se tivesse emergido das águas neste instante. Porém estava ali, no centro da clareira, não havia mar ou rio, ou lago ou fonte. Ela estava só. Ela era só e seria só para sempre.
A luz tornou-se um pouco mais amarela e estranha. Foi se intensificando e se transformando numa luz intensa e vermelha, como uma fornalha. Depois rosa, lilás, então azul. Primeiro azul profundo, o que transformou o dia da floresta em noite, mas então empalideceu seu tom para um anil etéreo e suave. E ele estava ali novamente, na borda da clareira.
Desta vez ela não correu. Nem o chamou. Ele veio caminhando. Olhos velhos muito sérios. Lúcia se levantou, já sem nenhum vestígio do oceano de lágrimas. Ele parou de frente para ela e emanava calor morno. Segurou seu rosto delicadamente e se inclinou para beijá-la.
O universo explodia novamente dentro dela. Seu corpo concentrava o poder de todas as estrelas e pulsares. Sua mente era uma supernova, cada ponto da pele era um feixe de nervos. A sensação de êxtase era tão absoluta que não há como ser descrita. Era como se ela estivesse experimentando todos os orgasmos de todos os seres capazes de sentí-los de uma única vez em frações de segundos.
***
Silêncio.
Negro e profundo.
Em seguida a dor. Lancinante, excruciante. Dor completa. Maior do que ser rasgada em mil. Dor profunda que não só atingia sua carne, mas dilacerava o fundo de sua alma.
_ Ela está voltando! _ exclamou o paramédico mais alto.
quinta-feira, 9 de julho de 2009
A Casca - Capítulo II: Só
Outra manhã enevoada pelo espectro de um sonho indesejado.
Lucia novamente se olha no espelho com o semblante exasperado de quem tenta impor sua vontade a algo que não pode ser influenciado. Ou pior, quanto mais pensa em evitar o sonho, mais ele se torna recorrente. Isso ela já sabia, isso qualquer tolo sabe.
A duas semanas ela sonhava com o estranho e seus olhos antigos como os dela. Ele sempre desdenhava de sua incapacidade de alcançá-lo e sumia, deixando-a impotente e deseperada no chão de uma velha floresta densa e verde. Hoje à noite, porém, o sonho havia se modificado um tanto, pois ela, depois de se jogar ao chão e chorar, havia levantado os olhos e ele estava lá, ainda, olhando para Lúcia. Isso a assustou e a fez despertar. Na madrugada a impressão era de que o homem ainda estava no quarto, espiando-a. Com a sensação de ser observada, Lúcia estendeu o braço para a cabeceira e ligou a lâmpada do abajur. É claro que não havia ninguém no quarto, mas a sensação de vulnerabilidade, até então uma desconhecida, assombrou-a até a manhã.
Os episódios estavam tornando-se desagradáveis ao extremo. Primeiro por serem, na opinião da própria Lúcia, indícios de uma carência de algo indefinido, depois por estarem roubando um dos maiores prazeres para ela: a solidão.
Lúcia não era de se comparar com outros, nunca gostou da idéia de usar outra pessoa como parâmetro, mas certas coisas eram inevitáveis. Uma delas foi a constatação de que a grande maioria dos seres humanos tinha uma desesperada nececidade de pertencer a um grupo. Outra delas foi a constatação que a minoria de seres humanos que não pertencia a grupo nenhum era extremamente infeliz justamente por isso.
Para ela existiam prazeres supremos que somente eram conseguidos sozinha. Dormir era feito sozinha. Por mais que existisse uma outra pessoa dividindo a cama consigo, dormir mesmo só poderia ser feito só, não existia como dormir junto, assim como não existia como sonhar junto. Cada uma sonha seu sonho e era irônico que isso estivesse sendo um problema para ela agora.
Outro grande prazer solitário era ler. Não se lê junto. A leitura é uma experiência íntima e pessoal. Cada um extrai das letras sensações particulares. Cada um saboreia o livro com gostos diferentes. Não é algo que possa ser feito em conjunto.
Por fim o sexo. Em tese é algo que precisa de duas pessoas, porém, mesmo no sexo, Lúcia nunca havia encontrado um parceiro, por mais habilidoso que este fosse, que conseguisse satisfazê-la tão completamente como ela mesma se satisfazia. Ela se conhecia muito bem e somado a isso havia a sua propensão a não deixar que mais ninguém a conhecesse. Por mais que tivesse experimentado relações muito prazerosas, ela se bastava. Até para isso.
Mas agora algumas coisas eram diferentes. Seu precioso tempo consigo estava sendo estragado por um pensamento obsessivo sobre a necessidade que lhe perturbava o sono. durante seu tempo acordada a vontade de não voltar a sonhar com o homem dos velhos olhos era constante. Isso culminava com mais uma longa noite chorando por ele.
Mas o que ele poderia lhe dar para lhe saciar a angústia, que a sufocava quase toda noite, Lúcia ainda não sabia. Sabia somente que era urgente conhecer esse vão oculto de sua alma. Sabia que continuar necessitando de algo lhe era uma coisa inteiramente nova e que não tinha espaço em sua vida perfeitamente arrumada.
Seguiu para o hospital, para mais um plantão. As luzes frias refletidas nas paredes muito limpas, esverdeadas, poderiam não ser convidativas para a grande maioria dos frequentadores, mas Lícia gostava do contraste entre essa luz e o sangue ora vermelho, ora quase negro, sendo vertido pelos cortes de suas operações. É claro que não era algo a ser comentado. Com ninguém. Mais um dos prazeres que deveria ser degustado a sós.
As horas do plantão seguiram rapidamente, pois a maioria dos atos era tomado com velocidade e executado com precisão. Essa rotina não a cansava. Na verdade, exercer uma profissão onde suas qualidades peculiares como frieza e impenetrabilidade eram positivas fazia com que ela saísse revigorada no final de seus turno. É claro que Lúcia, com a vasta experiência de anos interpretando um modelo mais aceito pela sociedade, sabia que deveria aparentar um grande cansaço e frustração, paradoxalmente sentia-se cada vez mais viva.
Saindo do hospital ela pegava seu carro para se dirigir à casa. Assim era o que seus colegas imaginavam, porque sua pele fervia de vida e de vontade de viver e curtir-se mais e mais era imperativa. O hábito criado por ela era justamente sair, mesmo que tivesse ficado sem dormir, e aproveitar a energia que sentia até a última gota, para depois, completamente exaurida, dormir em seu apartamento. E esperar não sonhar com o homem dos olhos velhos.
Dentro de seu carro existia um pequeno arsenal de objetos que ela lançava mão para preservar seu tesouro mais precioso: sua intimidade. Ela levava sempre perucas e mudas de roupa, que eram completados por maquiagem. Somente seus olhos azuis sondativos permaneciam inalterados.
Depois do último plantão, especialmente longo, especialmente agitado, a necessidade de viver pulsava em cada poro de sua pele e ela precisava aproveitar essa sensação sem ter de se comprometer ou se revelar. No estacionamento da boate cluber, ela colocou a peruca loira e a roupa justa e entrou.
A porta de ferro, com a pintura descascada, escondia um clube privado onde as pessoas tinham o compromisso de não comprometerem umas às outras. Não se usava o nome próprio. Cada ato ou fantasia era lacrado pelas portas negras e pela luz estroboscópica ofuscante do lugar. Lá dentro Lúcia, que já não atendia por esse nome e sim por Ray, podia mostrar as costas e a enorme tatuagem que a cobria e que terminava em uma manga colorida em cada um de seus braços.
Como médica, seu acesso à morfina, tranquilizantes, vicodin, era muito facilitado. Além de LSD, bala e outros psicotrópicos. E a sensação de quase deixar o próprio corpo, de observar tudo como uma terceira pessoa era intoxicante. Em todos os sentidos.
Enquanto esperimentava a sinestesia resultante das drogas e provava o sons altos, ferindo os ouvidos, que dançavam em harmonia com os raios de luzes coloridas, ácidas, que cegavam ao mesmo tempo que faziam a retina enxergar novas cores, a conhecida sensação de ser observada lhe queimou a nuca.
Ora, mas é claro que estaria sendo observada. Haviam ao menos quatrocentas pessoas em um espaço pequeno, impossível que não houvesse uma que a olhasse. No meio da pista, parou, enquanto outros esbarravam e a faziam dançar somente pelo fato de todos os corpos estarem muito juntos. Levada pela multidão, suava em profusão enquanto corria os olhos, histérica pelos rostos. Sabia que o homem dos olhos velhos estava ali.
Levantando o rosto, ela viu seus olhos no átrio acima de si. Eles pertenciam a um homem alto, com a pale alternando entre tons de azul e verde. As luzes da casa rendeando e criando padões coloridos pelo rosto. Não se podia ter certeza naquele lugar, mas ele parecia estar vestido inteiramente de preto. Ele estava olhando para ela, e só para ela. O mesmo sorriso cínico.
Hipnotizada, sem tirar os olhos do átrio, ela começou a andar em sua direção, porque sabia que ele poderia lhe dar a resposta. Porém, invariavelmente alguém dançando empurrou-a com mais força, o que fez com que se desequilibrasse. Segundos de hesitação fizeram com que a imagem do homem dos olhos velhos se perdesse.
Lúcia ficou ainda por algum tempo no meio da pista de dança sendo empurrada por outros dancarinos suados em seus delírios solitários, imaginando se teria realmente visto o homem ou se era efeito da cocaína, das luzes e da sua imaginação cansada.